Brincadeira Literária - O Urso com Música na Barriga


Para mim foi um desafio enorme participar da Brincadeira Literária. Primeiro porque sempre quis fazer resenhas de livros mas nem sempre me sentia apta a fazê-lo. Às vezes me bate uma insegurança danada, um medo de críticas, de que não gostem do que escrevo, do que penso sobre as obras.

E segundo porque o primeiro livro que li tem um significado muito especial. Ele explica os motivos que me fizeram gostar tanto de ler... e por incrível que pareça, não foi um motivo fácil. Mas a gente precisa saber encarar as coisas, mesmo quando elas nos machucam. Então lá vai!

Quando eu tinha oito anos, minha mãe me mandou para morar com minha avó Maria. Ela era muito boa comigo e tudo mais, mais eu, criança que era, não conseguia entender o porquê de minha mãe ter me mandado embora. Eu só pensava que ela não gostava mais de mim e não me queria por perto. Minha mãe nunca foi muito de conversar com crianças, então ela não se deu ao trabalho de me explicar o que estava acontecendo. Hoje eu sei que o problema era que minha avó tinha perdido um filho de acidente de moto (na época ele tinha 18 anos) e não foi fácil para ela superar isso. Ela chorava sem parar e pediu para minha mãe deixar que eu ficasse com ela. Minha família nessa época estava passando por dificuldades financeiras sérias, então me mandar para casa da minha avó seria uma solução perfeita. Mas eu não sabia disso. Para mim só ficou a saudade e o sentimento de rejeição.

Junto com tudo isso, tive que lidar com uma escola nova e com o desafio de fazer novos amigos. Eles riam de mim, por eu chorar muito e chamar pela minha mãe (tá, eu não ajudava muito também). Então, fui me esconder na biblioteca, o único lugar seguro da escola. Quando eu soube que podia levar os livrinhos para casa então, foi perfeito! Eu lia um livro atrás do outro, assim eu me escondia em casa também.

No ano seguinte, minha mãe me levou de volta para casa.

Daí para frente, nunca mais parei de ler. Foi complicado superar tudo isso. Me tornei uma adolescente quieta demais, cheia de complexos, e era mais fácil viver no fantástico mundo da biblioteca. Lá eu podia ser quem eu quisesse e não precisava me preocupar com o que estavam pensando ou dizendo ao meu respeito.

Mas isso são águas passadas, hoje eu leio por puro prazer e não preciso mais usar subterfúgios. Entendo os motivos da minha mãe e morro de saudades da minha avó, que faleceu quando eu estava com 14 anos. Só sinto não tê-la ajudado mais a vencer a depressão causada pela perda do meu tio.

Mas vamos ao que interessa: o primeiro livrinho que li foi O Urso com Música na Barriga de Érico Veríssimo.



Esse livro é fascinante! Ele conta a história dos animais que vivem no Bosque Perdido e o interessante é que os nomes dos persanagens sempre conta um pouco sobre a personalidade deles, então o livro tem personagens como o Lagarto-Preguiçoso, o Vagalume-Faceiro, o Macaco-Patusco, o Tucano-Narigão, Anta-Gorda, o Jacaré Deixa-Estar (lento e caduco), a Abelha-Trabalhadora, e muitos outros.

Mas o cerne da história é a família de ursos. O pai e a mãe urso sonhavam com uma filha, uma linda ursinha que viria alegrar seus dias. Porém o filho mais velho, o Urso-Maluco acha quer seria uma boa piada trocar o pedido da mãe, e diz à cegonha que a família quer um urso com música na barriga. E é assim que nosso herói chega à história. Ele não fala, não chora e nem sorri, apenas soa música para expressar todas as suas emoções.

Mesmo causando estranhamento em todos, o Urso-com-Música-na-Barriga é aceito pela família, menos pelo irmão, que o trata como se ele fosse um brinquedo. Tanto apronta, que acaba fazendo com que o irmão mais novo seja levado para uma casa de humanos. Lá, uma criança muito curiosa tenta abrir o pobre ursinho para entender porque ele toca música. Mas, felizmente, o pobrezinho escapa e consegue voltar para o seu lar.

A história é ambientada dentro de um mundo mais compreensível para a criança, um mundo que esteja bem próximo do mundo que ela conhece e imagina e consegue mostrar a ela a importância das relações afetivas e o desafio de expressar os próprios sentimentos. Imagino que por isso nunca mais me esqueci desse livrinho.

Ele também fala do quanto é importante sermos responsáveis em nossas ações, dando como exemplo o Urso-Maluco, que colocou a vida do irmão em risco com suas brincadeiras inconsequentes.

Também é importante lembrar que o livro trata de questões como o racismo e do trato como o que é diferente de nós.

Originalmente, o livro foi escrito em 1938. A edição que li era de 1979 com ilustração de Vera Maria Muccillo, mas foi recentemente relançado pela editora Companhia das Letras, com ilustrações de Eva Funari.

A nova capa ficou assim:



Bom gente, espero que tenham gostado do meu primeiro livrinho... e da minha primeira resenha.

B-jussss!!! ♥
:-P

4 comentários:

  1. PARABÉNS !!! é impressionante sua capacidade de surpreender as pessoas, não apenas pela resenha escrita sobre o livro como também por esta parte de sua vida, confesso que como seu irmão não sabia muito bem o que você tinha passado.
    Gostei muito de sua resenha, agora sei de um bom livro infantil para minha afilha !!!!

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  2. Olá, Nina!
    Linda resenha, Nina! Adorei! Fiquei ainda mais feliz por ter podido ajudar, embora minimamente, a provar a si mesma que você é, sim, capaz daquilo que quiser fazer!
    E, por favor, entenda... eu não acredito em acasos... Acho que tudo em nossa vida tem um motivo, uma razão para ser... Pense nisso!
    E... Muito, muito obrigada por todo o carinho demonstrado e por sua participação....
    Espero conferir mais resenhas de livro por aqui, viu? rs
    Beijos,
    NÁH

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  3. Estou atrás do livro com as ilustrações dos anos 70. Quero sentir essa sensação novamente

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