Estilhaça-me - Tahereh Mafi


"- Você não pode me tocar - murmuro. Estou mentindo; é o que não digo a ele. Ele pode me tocar, é o que nunca lhe direi. Por favor, toque-me; é o que quero lhe dizer. Mas coisas estranhas acontecem quando as pessoas me tocam. Coisas estranhas. Coisas ruins. Coisas mortas." 

 Juliette tem apenas 17 anos e está presa há 264 dias. Consigo, tem apenas um caderno e uma caneta onde escreve freneticamente tentando manter a sanidade. Por todo esse tempo ele não viu outro ser humano, não ouviu outra voz e nem recebeu um toque qualquer... não só por estar sozinha mas porque ela não pode. Juliette tem um estranha doença dom, que a impede de tocar alguém. Seu toque é fatal e pode destruir. Por isso ela foi afastada da sociedade e da sua família, que a rejeitou quando soube que criava um "monstro" capaz de matar.

Lá fora, no mundo onde Juliette vivia antes, as coisas também não estão muito boas. O homem, com sua falta de cuidado com a natureza e ambição desenfreada, destruiu o planeta: o ar não é mais respirável, a água potável é para poucos, a energia e os alimentos estão racionados. Tentando resolver a situação, um grupo chamado Restabelecimento tomou o poder, mas conseguiram deixar tudo ainda pior, pois, dizendo que iriam manter a ordem, eles abusavam de seu poder e impunham uma ditadura de terror.

Mas tudo muda quando Juliette recebe um companheiro de cela. Durante 264 ela não tinha visto ninguém e agora teria outra pessoa, dividindo o pequeno espaço da cela com ela. Seu companheiro é Adam Kent, alguém que ela não quer pode se lembrar. Eles estudavam juntos e Adam era o único garoto que não a maltratava; agora ele parece não se lembrar dela. Uma noite, soldados invadem a prisão e arrastam Juliette com eles. Um grupo pertencente ao Restabelecimento, chefiado por Warner, descobriu sobre sua doença dom e pretende usá-la como uma arma contra os que não apoiam o regime. E pior, Adam é um soldado. Ele foi infiltrado na prisão para convencê-la a cooperar.

Estilhaça-me foi, com certeza, a grande surpresa do ano (e ainda estamos em abril!). Eu já esperava com muita ansiedade pelo livro e temia não gostar, pois os spoilers que li mostravam que não era uma história muito original. Mais tenho que confessar que fiquei completamente cativa do livro. Para ser mais precisa, fiquei cativa de Tahereh Mafi. O que essa mulher escreve é algo que não consigo dimensionar aqui. A narrativa dela é maravilhosa. A forma como explica as sensações e sentimentos de Juliette por meio de metáforas nos ajuda e entender exatamente o que a personagem sente e até a compartilhar um pouco de sua dor.

"Seu toque está chamuscando minha pele pelas camadas de tecido e eu aspiro tão rápido que meus pulmões sofrem um colapso. Estou em meio a correntes de confusão que se chocam, tão desesperada por estar perto tão desesperada tão desesperada tão desesperada por estar longe. Não sei como me afastar dele.Não quero me afastar dele.
Não quero que ele tenha medo de mim." (p.38)

A maneira como ela repete várias vezes a mesma palavra (desesperada, nesse caso) e as frases riscadas nos ajudam e entender melhor a complexidade que é Juliette, como se pudéssemos ouvi-la discutindo consigo mesma. Imaginem crescer sem poder tocar e ser tocada. Imaginem a quantidade de traumas e medos que isso pode gerar em alguém. Todos eles essa menina tem, e todos aparecem nas páginas. É uma angústia lancinante! 

E em meio a toda essa confusão que é alma de Juliette aparece Warner. Lindo, sedutor e muito desequilibrado, fazendo uma proposta que poderia ser aceita por qualquer que passasse por metade do que Juliette passou. Seria tão mais fácil... o mundo foi tão cruel com ela, por que não ser cruel com ele também? Por que não devolver na mesma moeda? Ela teria uma vida de luxo e riqueza e nunca mais passaria por qualquer privação. São esses os argumentos que Warner apresenta de forma brilhante e sedutora.
Aliás devo acrescentar que Warner é um personagem incrível. Eu já sou do tipo que tem um queda por bad boys bonitões, e Warner é o tipo de vilão que me ganha: lindo, carente e ainda com chances de reabilitação pois, ele é malvado porque o o pai foi malvado com ele. Quer coisa mais irresistível para uma mulher do que salvar a alma de um vilão?

Acontece que Juliette não pensa assim. Mesmo com toda a mágoa que ela tem do mundo, para ela é inconcebível a ideia de torturar alguém.

"Fui desprezada abandonada banida e arrastada de minha casa. Fui empurrada espetada testada e jogada em uma cela. Fui estudada. Fui deixada passando fome. Fui encorajada à amizade somente para ser traída e aprisionada neste pesadelo pelo qual esperam que eu seja agradecida. Meus pais. Meus professores. Adam. Warner. O Restabelecimento. Sou dispensável para todos eles.
Eles pensam que sou uma boneca que eles podem vestir e retorcer em posição prostrada.
Mas eles estão todos errados." (p.66)

Mas além de toda sua boa índole, Juliette tem outro bom motivo para resistir às investidas de Warner: Adam! Moreno, forte, olhos azuis lindo lindo lindo. Bom moço, disposto a lutar por ela e com um irmãozinho totalmente fofo. Além de ter uma pegada muito hot! Sim, pois eles se pegam o tempo todo e não me pergunte como, você vai ter que ler para descobrir, rsrs.

É claro que o livro tem seus defeitos, afinal todos tem. Como distopia, ele não apresenta nenhuma novidade e aqueles que lerem só porque gostam do estilo, com certeza vão se decepcionar. As comparações com X-Men são inevitáveis, principalmente no final. Mas querem saber? Eu não me importei, adoro X-Men. Sempre foi meu desenho preferido (o desenho, não o filme!). E a narrativa da autora compensa qualquer falha que o livro apresenta na parte "distópica" (existe isso?).

Enfim, eu amei Estilhaça-me! Amei a capa, a história, os personagens, a narrativa... Acredito que, esse ano, dificilmente eu vou ler algo tão bom quanto.

B-jusssss! ♥
;-p


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