Persépolis - Marjane Satrapi
SATRAPI, Marjane. Persépolis (Completo). Tradução Paulo Werneck. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 352 páginas. Título original: Persépolis 1,2,3,4. Skoob.
Sinopse
“Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita - apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa.
Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares.
Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama - e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.”
A fama de Persépolis o precedeu em muito até que eu tivesse a oportunidade de tê-lo em mãos. Sempre ouvi muitos elogios, tanto ao livro quanto ao filme, e mesmo louca de curiosidade para conhecer a história, acabei esperando pelo melhor momento. E esse momento chegou quando Emma Watson escolheu o livro para o seu Clube de Leitura Feminista, o Our Shared Shelf ("nossa prateleira compartilhada", em português). O clube foi fundado em janeiro deste ano e serve para leituras de cunho feminista serem compartilhadas e discutidas mensalmente, como parte da campanha pela igualdade de gêneros He for She, encabeçada pela atriz na ONU. E muito gentilmente, a Companhia das Letras nos cedeu um exemplar para que pudéssemos acompanhar a leitura.
E vamos combinar que Emma Watson não poderia escolher leitura mais apropriada, já que Persépolis é um livro autobiográfico que narra como foi para Marjane Satrapi, um libertária criada em uma família moderna e muito culta, crescer no Irã na década de 1980. Em 1979, uma revolução transformou o país - até então comandado pelo Xá Mohammad Reza Pahlevi - de uma monarquia autocrática pró-Ocidente, em uma república islâmica teocrática sob o comando do aiatolá Ruhollah Khomeini. E, como era de se esperar, essa revolução afetou profundamente a vida de Marjane.
A revolução acontece quando Marjane tem dez anos e, aos poucos, ela vê sua rotina mudando. É obrigada a usar véu, a estudar só entre meninas, a cobrir o corpo e a medir suas palavras (o que acaba sendo o mais difícil para ela). Ainda muito jovem, ela tem dificuldade para entender o que está acontecendo, para lidar com as mudanças, e é tocante ver os horrores do conflito pelos olhos inocentes de uma criança que sonhava em ser profeta para resolver os problemas do mundo. Mas isso é muito pouco perto do que está acontecendo no país: pessoas desaparecendo, vizinhos fugindo enquanto podem (o país fecha suas fornteiras em 1981) e com o início da guerra contra o Iraque em 1980, uma bomba poderia cair sobre sua casa a qualquer momento. O terror e a falta de perspectiva tomam conta.
Na adolescência, o espírito contestador de Marji começa a lhe trazer problemas. Ela não consegue ficar quieta diante de tantos absurdos, como a TV dizendo que "o cabelo das mulheres contém raios que excitam os homens; elas devem escondê-lo!". Andar com jaqueta jeans e tênis pelas ruas levou a menina a um interrogatório de uma patrulha de senhoras pró-revolução. Assustados, seus pais a enviam para estudar na Áustria. Lá, além de lidar com as transformações típicas da fase, ela precisa tentar se adaptar em um lugar onde é uma estranha no ninho, onde sua cultura e seu país seu vistos como vilões e com muito preconceito. Ela passa a viver muito sozinha e acaba tendo muitos problemas por isso. Quatro anos depois ela volta ao seu país, mas aí o problema é ainda maior. Depois de ter vivido tanto tempo fora, ela já não consegue mais se encaixar no Irã, mas também não é estrangeira.
A animação é um clássico no que se refere a questões sociais e políticas, mas o que mais me encanta é que o livro não ficou preso apenas a isso. Ele fala bastante das dificuldades vividas no Irã por causa da revolução e depois com a guerra contra o Iraque, mas também fala de religião com muito respeito pelas premissas islâmicas. Faz também um retrato tocante das dificuldades em ser adolescente, ainda mais em meio a tanta repressão, as transformações físicas e emocionais e o desejo de viver tudo o que é proibido a ela. A dificuldade de se adaptar a uma cultura diferente e o preconceito que muita gente tem contra muçulmanos, gente que não conhece a doutrina e que pensa que todos eles são terroristas. E finalmente, a luta da mulher por igualdade de direitos e oportunidades. Tudo isso numa linguagem simples e direta, o que deixa a leitura muito leve e até mesmo divertida, mesmo tratando de temas tão profundos.
Satrapi começou a publicar suas memórias na França em 2002. Persépolis saiu originalmente, lá e aqui, em 4 volumes: os dois primeiros sobre a infância e pré-adolescência de Marji, o terceiro sobre seu exílio na Europa e o quarto sobre seu retorno ao Irã para cursar a universidade. O material foi reunido no Brasil pela Companhia das Letras em uma edição única, e foi esse o volume que li.
É um livro mais que recomendado e que considero leitura obrigatória para todos, por trazer luz à acontecimentos que pouco chegam ao nosso conhecimento e por, brilhantemente, consegue revelar o que é ser um civil no meio de uma revolução, de uma transformação cultural violenta e de uma guerra. E mesmo nesse clima de terror e incertezas, a família Satrapi consegue rir e ter esperança em um amanhã melhor, e é isso que faz de Persépolis um livro imperdível!
Em 2007, Persépolis foi transformado em um curta metragem que estreou em Cannes com estrondoso sucesso.
A Autora
Marjane Satrapi nasceu em Rasht, no Irã, em 1969, e atualmente vive em Paris. Estudou no liceu francês de Teerã, onde passou a infância. Bisneta de um imperador do país, teve uma educação que combinou a tradição da cultura persa com valores ocidentais e de esquerda. Aos catorze anos, partiu para o exílio na Áustria, e depois retornou ao Irã a fim de estudar belas-artes. Estabelecida na França como autora e ilustradora, Marjane ainda voltou à narrativa de memórias no livro Frango com ameixas, baseado em relatos de seu avô. Em 2007, Persépolis foi transformado num longa-metragem de animação, que estreou no festival de Cannes.
Avaliação (5/5) ♥
B-jussssssss!
;-p
Que livro mais interessante!! Estou me perguntando como não soube da existência dele antes. Vou me segurar para não ver o filme antes de ler o livro (haha). Amei a resenha!
ResponderExcluirAbç
Oiee ^^
ResponderExcluirGente, que livro incrível! Eu me lembro da capa dele só, não sabia que tinha essa premissa maravilhosa. Fiquei boba agora...haha' Adoro histórias que se passam durante revoluções e coisas do tipo, principalmente quando é sobre o Oriente, que me interessa e intriga muito. Não sabia que existia o filme *-*
MilkMilks ♥
Nem sabia que a Emma Watson tinha um clube de leitura feminista, que legal! Não me interesso por esse livro por ser autobiográfico e eu não curtir esse tipo de leitura, fora que não sou muito ligada em história. Mas devem ter sido mesmo bem difíceis as coisas quando tudo mudou, eu também teria problemas com essa parte de medir as palavras.
ResponderExcluir